Citações

Poucas pessoas foram “agentes modificadores” na minha vida. O Mário foi um deles:

– quando me iniciei no Teatro, no TALM, na então Lourenço Marques,  fazendo a Angústias, da Casa de Bernarda Alba;

– quando o visitei, e à Joana, em Strasbourg e fiquei fascinada pelo seu trabalho no Théâtre National

– quando em Setembro de 74, o encontro, por acaso, no Príncipe Real e me desafia a fazer parte da equipa que iria formar o CCE.

Na verdade a minha vida mudou, para melhor, com a abertura de novos mundos que o M.B. me trouxe. Reconheço o seu imenso valor e também o seu feitio, tantas vezes explosivo com razão ou sem ela, sempre com objetivos do maior bem comum e de uma maior consciência política.

Aprendi muito nos 12 anos de trabalho com ele, em Évora.

Bem Hajas, Mário Barradas pelo legado que me deixaste, pelas incontáveis discussões, pelos desafios permanentes, por tantas vivências no nosso trabalho teatral de descentralização, por esse  Alentejo que conheci através de ti.

Estive incondicionalmente a teu lado na concretização da Utopia “teatro para todos, abertura das consciências, construção de um mundo melhor e de um Novo Homem”

Meu querido Mestre e de tantos outros! Bem Hajas!

Viva o Teatro. Viva a Resistência!

Teresa Gonçalves

Mário Barradas em Elementos menos Produtivos de Peter Turrini, encenação: Luís Varela

O Mário Barradas. O meu Avô Mário. Para mim dois homens diferentes e o mesmo homem, o dos afectos e o do teatro.

É-me difícil escrever sobre o Mário Barradas, era um grande homem, há poucos, e ele era um deles. Famílias, amigos, colegas, alunos, todos sabíamos disso. Não conseguiria fazer-lhe justiça por isso escrevo sobre meu avô.

O meu Avô que escrevia cartas e dizia poesia a cada esquina, poemas em português ou francês brotavam e nós, a minha irmâ e eu, encantadas ouvíamos. Lembro-me de do alto da minha arrogância de juventude ter declarado que não gostava de Cesário Verde, achava-o chato, ele declamou o “Sentimento de um Ocidental”, o poema ganhou corpo e forma e eu ganhei o Cesário. Também me lembro de lhe pedir que recitasse o “História Antiga” do Miguel Torga uma e outra vez e dele me oferecer uma cassete com o poema para que eu o pudesse ouvir sempre que quisesse e ele pudesse dizer outros poemas. Perdi a cassete, tenho pena, mas continuo a ouvir a voz dele quando leio o poema.

Do meu Avô guardo a voz cheia, o amor às letras e à poesia, guardo como guia a rectidão e o sonho, posto em prática, de tornar o mundo melhor. Ele praticava o que apregoava e isso é raro.

Dedicou-se inteiramente ao teatro. Talvez seja por isso que eu tenha ido parar ao teatro.

Lembro-me de andar com ele nos corredores do Garcia de Resende. Lembro-me da forma como tratava todos por tu e todos por igual. Lembro-me de ele ser o Mário Barradas quando estava no teatro. Uma vez fomos visitá-lo e ele saiu de uma reunião para nos dar um beijinho, era o Mário Barradas, não o Avô, a minha irmã pequenina assustou-se e chorou.

Guardo do meu Avô os abraços, o riso a dizer-me que estou a ficar velhota em todos os aniversários, guardo a experiência única de o ter acompanhado a Edimburgo para assistir ao “Troilus and Cressida” do Shakespear – a peça que ele nunca chegou a fazer – encenado pelo Peter Stein. Ele sabia a peça de cor, e explicou-me o enredo, as subtilezas das personagens, as opções de encenação, foi uma aula viva. Eu, como se ainda fosse criança, sentia um enorme orgulho por poder estar ali com ele, com o meu Avô, com o Mário Barradas. Nessa mesma viagem fomos ver uma encenação de uma peça do Brecht no Fringe Festival, era uma companhia de jovens americanos. Ele assistiu àquela encenação com a mesma paixão com que assistira à do Peter Stein na noite anterior.

Tenho saudades do meu Avô mas não o perdi, os ensinamentos dele servem-me constantemente de guia, no meu último projecto, um projecto poético, sobre poesia “7 poemas para um mundo novo” lembrei-me muitas vezes das suas palavras sobre o que é dizer um poema, sobre como um poema não precisa de ser interpretado, apenas dito, e a sobre a sua alegria em partilhar o seu amor à poesia.

Violeta Barradas

Sempre me fascinou a Op’Art nas suas diferentes configurações. Imaginem uma tela e as figuras que ela transporta, entre concâvos e convexos, livros em pé, livros ao deitado, caixas por abrir ou superfícies de mármore estonteadas. Vêem-se estrelas de cinco ou mais pontas como se o mundo fosse pautado e transportasse cachos de diamantes ora visíveis ora invisíveis. O plano era o de subir aos píncaros do mundo pelo lado do infinito. A Língua Portuguesa é a tela que ganha formas diferentes, não opostas, mas infindáveis, tal qual plantas de um irrepreensível geometrismo, sobe e desce-se com uma musicalidade de matriz idêntica, mas várias sonoridades. Esta é a minha Língua, a minha casa onde habitam histórias talhadas na memória dos séculos. António Torrado
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