Sobre

O projeto “Ler o Mundo em Português” propõe-se contribuir para potenciar a riqueza duma língua que consegue produzir tantas misturas únicas, uma língua que tem dentro de si os diferentes olhares e mundos que há no mundo.
Apesar de termos a mesma língua e toda uma história vivida em conjunto, tem sido difícil criar não só um sentido de pertença a uma Pátria da Língua, mas também concretizar projetos ponte entre os cidadãos, os parceiros, os países e as comunidades que pensam e falam em português, quando a ideia da Pátria da Língua e a construção de uma teia de projetos ponte que atravessem os mares, contribuiria para dar uma outra força aos mais de 250 milhões de falantes de português no mundo. O que se pretende com esta proposta é lançar os alicerces do que chamamos um Centro de Pensamento, Experimentação e Criação Artística e Tecnológica do e para o Universo da Língua Portuguesa.

Os princípios e as capacidades de um Cidadão da Pátria da Língua Portuguesa.

E de que princípios estamos a falar?

Do rigor matemático, da capacidade única de surpreender com as ideias e as soluções imprevistas, a cordialidade com que nos relacionamos com os outros, sejam ou não adversários. Características que encontramos em Eusébio, e a que é importante acrescentar a luta pela Liberdade, como nos mostra o exemplo da resistente Alda Espírito Santo.

Ser cidadão da Pátria da Língua Portuguesa é ter memória, memória que atravessa todo o percurso do Ballet Stagium que já dançou a violência do Holocausto e a luta dos mineiros do Chile e o garimpo de ouro em Serra Pelada na Floresta Amazônica.

A resistência dos índios brasileiros em Kuarup e a ruptura artística e nacionalista dos modernistas de 1922, o futebol, a América Latina, Coisas do Brasil e Dona Maria 1ª, a Rainha Louca, e a resistência dos escravos nos Quilombos, a música brasileira popular de Chico Buarque a Elis Regina, de Dorival Caymi a Carmen Miranda, de Adoniran Barbosa e Quinteto Violado a Ary Barroso, de Milton Nascimento a Egberto Gismonti e Geraldo Vandré e a erudita contemporânea de Villa-Lobos, Cláudio Santoro, Almeida Prado e Ayrton Escobar, a literatura em “A Infanticida Marie Farrar” de Bertolt Brecht, em “Diadorim” de Guimarães Rosa, em “Os Estatutos do Iníciom” do poeta Thiago de Mello, e o teatro em “Navalha na Carne” de Plínio Marcos.

Neste mundo múltiplo e complexo o cidadão da Pátria da Língua Portuguesa tem também que ser capaz de viver entre mundos e de potenciar a riqueza dessas realidades muitas vezes contraditórias, tem de ir ter, conversar e dar-se com o outro e os outros, de se integrar em ambientes diferentes e de preservar, no fundo de si, o calor único que esta língua transporta, como muito bem nos mostra a Sylvie De Morais.

Com a consciência que precisamos de pelo menos duas línguas, uma de ancoragem psicológica, outra nacional e de ensino, quando as duas não coincidirem, para dar sentido e enriquecer a diversidade desta língua com tantas culturas e olhares, como nos explica o Corsino Tolentino

E, finalmente, deixar que as nossas maiores referências, sejam a de Camões ou Pessoa, entrem primeiro que tudo pelos ouvidos, pois, como muito bem nos diz o António Fonseca, a porta de entrada da paixão pelas histórias, pela poesia, pelo artifício da linguagem deve ser a oralidade.

Boas leituras.

Carlos Fragateiro