Testemunho de Homenagem a Mário Barradas

Da atividade teatral de Mário Barradas em Moçambique e dos seus posteriores estudos específicos em Estrasburgo tinha eu algumas vagas notícias. Mas nunca, sobre isso, havíamos trocado qualquer correspondência, sendo ele açoriano como eu (nascido ele na ilha de São Miguel e eu na ilha Terceira). Até que este meu prezado conterrâneo, regressado a Lisboa, aceita, da parte de Madalena Perdigão, em 1972, a incumbência de reformular o ensino dramático no nosso Conservatório Nacional. Ora, reconhecendo eu, de alguns espetáculos, o invulgar talento do encenador, e na sequência de tão estimulantes circunstâncias, – tendo eu assumido entretanto a chefia da Divisão de Teatro da Secretaria de Estado da Cultura –, acontece que, certo dia, o Mário se me apresenta mais concretamente e logo se proporciona um oportuno momento de convívio.

Trocámos então impressões sobre os nossos projetos profissionais. E não deixei de referir-lhe as não sei se duas ou três visitas que já havia feito a Évora, visto parecer-me, de momento, a cidade ideal para pôr em prática uma verdadeira descentralização profissional: alguns grupos de teatro amador de muito bom nível, – a uma razoável distância de Lisboa –, uma plena aceitação por parte das entidades locais e a existência de um Teatro magnífico (o Garcia de Resende, embora num estado deplorável, a exigir e a merecer urgente recuperação). Mais: não deixei de referir-lhe que, antes de dar início a esta minha diligência de investigação, obtivera a favorável concordância da Comissão Consultiva Para as Atividades Teatrais.

O Senhor Puntila e o seu Criado Matti,1975 fotografia de Paulo Nuno Silva

Ao longo da conversa, um tanto breve mas animada, constatei que as nossas ideias sobre a verdadeira descentralização que era necessário empreender coincidiam em muitos aspetos. E, ao despedimo-nos, surpreendeu-me a pergunta dele quanto à possibilidade de me acompanhar numa das próximas visitas a Évora. Disse-lhe logo que sim. Ficámos amigos. E, a partir daí, passámos a ir juntos naquelas visitas de trabalho. O contributo do encenador micaelense na defesa desta causa foi sem dúvida alguma precioso. De modo que, criado oficialmente o Centro Cultural de Évora (hoje designado por CENDREV), o diretor não poderia deixar de ser Mário Barradas.

Norberto Ávila

Outubro de 2020

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