Uma Figura: Adjany Costa

Uma Figura

Adjany Costa

Há 15 anos, na Fac de Ciências da Uni Agostinho Neto, voluntariei-me durante 6 anos no @projecto_kitabanga . Todos os fins de semana de Setembro à Dezembro passava a madrugada toda a patrulhar a Praia das Palmeirinhas com a @sol_spc e a Gizela a marcar tartarugas adultas e a proteger os ninhos. Não havia celebração colectiva para mim nesses meses. Só casos de vida ou morte me tiravam o prazer e a responsabilidade de andar cerca de 40 km por noite (o Projecto ainda não tinha motas) e a dormir em baixo das estrelas, com o barulho do mar a fazer companhia, a jantar batata frita de pacote com bife temperado com coca-cola do @michelmorais72 . Sabia já na altura que era para isso que tinha sido feita, longe da confusão citadina, perto da imensidão do mundo natural que me mantinha sã.

Com as primeiras motas, era a que mais tempo passava a patrulhar as praias. A brisa do mar a rasgar-me a pele da cara, o cheiro a inebriar-me os sentidos e as paragens ocasionais para fazer companhia às mamãs e contar os ovos que punham. Fazia questão de patrulhar até ao nascer do sol, em que me sentava na areia e via a noite virar dia, numa explosão de cores que não tinha oportunidade de ver em lugar outro nenhum da minha vida quotidiana. Sozinha, rodeada de tudo que mais me fazia sentido.

Foi com as tartarugas que tive as primeiras interacções com comunidades e percebi a delicadeza da conservação comunitária, foi com elas que aprendi o conceito de sacrifício social em prole de algo maior que eu. Foi com esse primeiro passo que ultrapassei os primeiros obstáculos nesta vida cinzenta de conservação, e que sobrevivi aos primeiros dissabores dessa escolha. Desde “maluca” à “mimosa” e “truquenta” à “É só uma desculpa para não estar connosco, “Não queres vir diz só”, “o teu pai assim te deixa ir dormir ao relento tipo não tens casa?”…

Hoje, Dia Internacional das Tartarugas Marinhas, reflicto não só sobre essa espécie espectacular mas sobre a minha carreira adolescente em que vivi, caí, aprendi, tropecei, levantei, sobrevivi, cresci, amadureci, chorei, frustrei… Mas fiz, alcanço e mantenho-me de pé rumo ao mesmo objectivo: Angola.

AUTORA DO ARTIGO

ADJANY COSTA

Texto publicado no Instagram em 16/06/2021.
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